Foi o que apontou Igor Rocha, economista chefe da Fiesp, durante o Congresso AutoData Megatendências 2025
São Paulo – Dada a turbulência comercial instalada em todo o globo após a entrada em vigor do tarifaço de Donald Trump em 5 de abril, e considerando que, após retaliações, negociações estão em curso e podem postergar a entrada em vigor das alíquotas cheias, o economista chefe da Fiesp, Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, Igor Rocha, traçou os possíveis reflexos na economia brasileira durante o encerramento do Congresso AutoData Megatendências 2025. Um deles é a redução na escalada da taxa de juros.
O aumento das incertezas globais, se prolongado, pontuou Rocha, poderá ter efeitos negativos sobre os investimentos financeiros e produtivos e desencadear desaceleração da economia estadunidense: “Será muito custoso aos Estados Unidos, que por mais que seja uma potência e tenha muita resiliência não conseguirá seguir brigando com o mundo todo. Hoje as coisas são consideradas baratas por lá devido à enorme oferta. Agora, se isso for restringido, os preços subirão”.
O economista citou que pesquisa realizada com CEOs no fim do ano passado, antes da posse de Trump, apontou que 12% deles acreditavam que o país poderia entrar em recessão. Dois meses depois esta percepção saltou para 92%.
“Eu, particularmente, não acho que isto acontecerá ainda pois tudo está muito incipiente, mas este é um ponto de preocupação. A grande pergunta é: a inflação dos Estados Unidos se sobreporá à desaceleração da atividade ou a desaceleração da atividade se sobreporá à inflação? E em qual intensidade isto se dará?”
Pois bem: exceto se a inflação fugir do controle a redução da atividade econômica dos Estados Unidos deverá resultar na queda dos juros. Como um efeito em cadeia se terá menor pressão sobre o endividamento público brasileiro e um alívio tanto para a inflação, que consequentemente ajudaria a segurar os juros locais, como para a política monetária.
Fotos: Patrícia Caggegi.
Desta forma o País se beneficiaria, portanto, frente a cenário de economia aquecida, com taxa de desemprego em patamar baixo, expansão da massa salarial e liberação de recursos do FGTS para estimular ainda mais o consumo. Por ora a inflação segue pressionada, principalmente pelos preços dos alimentos, elevados pelas mudanças climáticas, e, para tanto, o remédio encontrado pelo Banco Central é a elevação dos juros, que encarece o crédito e desacelera a indústria de transformação e a construção civil.
Outro reflexo é a queda nos preços das commodities, por causa do menor crescimento global, o que resultará, por um lado, na redução da inflação – o que converge para a redução dos juros –, mas por outro, gera pressão negativa para o real e para as contas públicas: “A economia brasileira é muito commoditizada e, sendo assim, é ruim para o nosso crescimento”.
Mais um ponto é desvalorização do dólar – vale lembrar que a previsão do mercado é de que ao fim de 2025 a moeda chegue a R$ 5,90, diante da expectativa de menor crescimento nos Estados Unidos.
“Existem dois cenários. Se as tarifas forem fixadas e a economia dos Estados Unidos entrar em processo de estagflação, o dólar cai. Por outro lado, se entrar em espiral disfuncional, como o que ocorreu há pouco, em que cada dia um país impõe tarifa diferente, há elementos de crise financeira global, a exemplo da turbulência de 2008.”
Quanto às oportunidades de negócios o Brasil, considerando especificamente a tensão que se dá de forma mais intensa com a China, Rocha reconheceu que, em um primeiro momento, poderá haver enxurrada de produtos chineses por aqui. Porém, há a possibilidade de abertura de mercados na China, uma vez que é reduzida a presença de concorrente de peso e também se abre um espaço para exportar itens industrializados que eram da China aos Estados Unidos.
“É claro que haverá uma reacomodação. Em termos relativos e comparativos para o Brasil não é tão ruim quanto para a Europa e o Sudeste Asiático. Mas, ainda não é bom. Melhor era antes. Porque em termos de economia mais comércio é sempre melhor do que menos comércio.”