Para Bosch e Eaton, que participaram do Congresso Megatendências, ainda é difícil calcular o impacto das subidas nas tarifas dos Estados Unidos
São Paulo – A guerra tarifária foi um dos principais pontos debatidos no painel que reuniu as fabricantes de autopeças no Congresso AutoData Megatendências 2025. Gastón Diaz Perez, presidente da Bosch, e Sérgio Kramer, diretor geral da unidade de negócios de veículos comerciais e fora de estrada do Grupo Mobility América do Sul da Eaton, disseram ainda não ser possível calcular o impacto das mudanças abruptas nas tarifas, mas ressaltaram que a guerra comercial torna ainda mais importante a necessidade de se localizar.
No caso da Eaton o processo de localização foi uma dupla saída, pois representa a união da engenharia nacional e nacionalização da produção: “Hoje a nossa importação vinda de fora vem se reduzindo em função dos nossos investimentos em P&D. A gente conseguiu avançar muito na diminuição da nossa dependências de importados. Reduziu bastante, drasticamente. A nossa base de exportação é maior do que a de importação”.
Na Bosch a situação é parecida com a da Eaton: a companhia também exporta mais do que importa. No entanto a maior parte dos envios é para a terra de Donald Trump.
Gastón Diaz Perez, da Bosch. Fotos: Patrícia Caggegi.
“Os Estados Unidos são o nosso principal destino de exportação. É difícil falar o que vai acontecer porque ainda não está claro. Eu acho que o que foi definido na semana retrasada, principalmente com relação aos Estados Unidos, ainda não é a fotografia final que veremos.”
De toda forma o executivo esclareceu que a guinada da economia mundial não influenciará as decisões de curto prazo.
Novas tecnologias específicas para o Brasil
O investimento em novas tecnologias produzidas no Brasil ainda esbarra em limites, especialmente as tendências mais sofisticadas: “Se a gente fala em desenvolver o carro autônomo não será no Brasil ou na América Latina, será na China ou nos Estados Unidos. Temos que escolher quais são as nossas batalhas. Uma história da Bosch é o flex e os biocombustíveis, uma vocação da região. Investimos na fábrica de Campinas para continuarmos desenvolvendo os híbridos flex”.
Os flex diesel também representam um novo filão para a empresa: “Começamos a misturar diesel e etanol em motores do ciclo diesel, conseguimos uma mistura de até 50%”, segundo Gastón, que ressaltou a aplicação da tecnologia para mineração e agro. O Brasil responde por 20% desses setores mundialmente.
O agro é impulsionador de novas tecnologias que são absorvidas mais rapidamente, uma aposta que inclui semeadoras e sistemas de plantio inteligente e agroquímico, com um spray mecanizado que funciona a mais de 20 km/h e aumenta a velocidade do processo, tudo envolvendo inteligência artificial e o desenvolvimento de software. Tecnologias locais que serão exportadas. Perez ressalta que, em 2019, havia 250 profissionais trabalhando em software, número que subiu para 1 mil na atualidade.
Sérgio Kramer, da Eaton. Fotos: Patrícia Caggegi.
“Um movimento que a Eaton vem fazendo é comparar os custos e eficiência de desenvolvimento da nossa engenharia local versus as outras regiões”, disse Kramer, apontando a Índia como opção. Mas o custo é competitivo, uma vez que envolve o Mover e outras vantagens, incluindo uma cultura de proximidade com os fabricantes e de formação de força de trabalho. É uma área que está passando as últimas décadas praticamente sem crise na organização.
Contratação maior de mulheres
Muitas vezes associada à influência de programas de assistência social, a falta de mão de obra não depende desse fator, segundo os profissionais: “Nós temos em algumas plantas algumas dificuldades com a rotação elevada. A questão acaba sendo o aquecimento da economia, as empresas contratando, investindo e atraindo mão de obra. A empresa aposta em recrutamento e formação. A nossa estratégia foi um programa para atrair mulheres. O que a gente observou é que a rotatividade delas acaba sendo menor do que a dos homens”.
De acordo com Kramer os homens têm uma tendência de trocar de emprego por algum motivo enquanto as mulheres valorizam mais a posição.
Perez afirmou que a rotatividade e dificuldade de encontrar e formar profissionais no Brasil não é grave quando comparada aos outros mercados da Eaton, incluindo Estados Unidos, México e Índia, permitindo ainda contratar mão de obra especializada, pois a empresa desenvolve mais talentos novos do que a necessidade, chegando a exportar profissionais para outros países. A formação de jovens é capaz de suprir a busca de profissionais.