São Paulo — O gosto amargo da persistente crise dos semicondutores, que fez com que a General Motors perdesse o posto do Chevrolet Onix como o carro mais vendido do Brasil em diversos momentos ao longo deste ano pela indisponibilidade do produto, parece estar ficando para trás. Apesar do temor da terceira onda de covid na Ásia, que paralisou recentemente linhas de produção no continente, inclusive de chips, e visando driblar as dificuldades inerentes ao contexto da pandemia, a montadora estima melhora até o quarto trimestre e segue sustentando fórmula composta por investimento em sua rede de concessionárias e em marketing, além da manutenção no cuidado com a cadeia de fornecedores.
Foi o que afirmou o presidente da GM América do Sul, Carlos Zarlenga, durante o último dia do 3º Congresso Latino-Americano de Negócios da Indústria Automotiva, realizado de forma online pela AutoData Editora: “Foi um período muito difícil para a empresa, com paradas de plantas no Brasil de um jeito que nunca vimos. Estou aqui há oito anos e, se tivesse há trinta, acho que nunca teria visto também.”
Para Zarlenga a extensão do problema pode ter duração mais longa ou mais breve, mas opinou que se trata de fenômeno de curto prazo: “Achamos que isso vai se normalizar no ano que vem, provavelmente no segundo semestre. Mas até o quarto trimestre deste ano estará funcionando melhor do que esteve até agora”.
O executivo disse que a planificação adotada foi a de buscar não converter um problema de curto prazo em um de longo prazo, correndo o risco de perder ativos, como os concessionários: “Apoiamos financeiramente a rede para que nenhuma concessionária reduzisse capacidade de vendas no longo prazo. Não queríamos perder os melhores vendedores, pois, quando a situação melhorar, não teríamos quem vendesse os carros. E os revendedores investem o tempo todo na marca e nos locais de venda. Eles são o ativo mais importante que a GM tem no Brasil, até mesmo que o portfolio de produtos, as fábricas e os funcionários. É absolutamente chave mantê-los vivos e saudáveis”.
Outro ponto foi a continuidade do trabalho junto aos fornecedores, para não criar um rombo na cadeia que fosse além da crise dos semicondutores. O investimento em marketing também foi constante, tanto que, conforme mencionou Zarlenga, estudo recente, de agosto, apontou que a marca está mais forte hoje do que em dezembro, quando o houve o melhor registro da história da Chevrolet no Brasil: “Construímos sobre a nossa fortaleza”.
Linhas paradas — A despeito da continuidade da aposta da empresa para crescer cerca de duzentos trabalhadores que operam na produção de motores em São José dos Campos, SP, sairão em férias coletivas de 13 de setembro a 1º de outubro. Outros 250 estão em lay-off até o dia 25. É prevista para o dia 26 a retomada das linhas de São Caetano, SP, de onde saem os modelos Joy, Joy Plus, Spin e Tracker, parada desde 21 de junho. Lá quatrocentos operários também estão com os contratos de trabalho suspensos. E esta semana, na segumnda-feira, 16, após quase cinco meses, a planta de Gravataí, RS, voltou a operar em um turno e a produzir o Onix e o Onix Plus.
Zarlenga reconheceu que há muita preocupação com relação à Malásia, principalmente, mas citou que o governo, lá, está aprovando a retomada de 100% da produção se a população estiver vacinada e, para estimular o processo, permitiu que as empresas vacinem seus funcionários: “Apesar da variante delta não podemos seguir com o mesmo tratamento da pandemia como estávamos em setembro do ano passado. Estamos vendo mudança com reaberturas e com a atividade se normalizando, e acho que isso é irreversível. Sou otimista. Cautelosamente otimista”.
Ele apontou que a General Motors seguirá incrementando volumes e que voltará ao patamar anterior: “Não há nenhuma razão pela qual não possamos fazer isso. E com todo o reajuste de preços que foi feito esses veículos são muito mais rentáveis hoje do que eram quando estavam fazendo volume. Então temos incentivo triplo para voltar e voltar rápido. Não tenho dúvidas de que o Onix voltará ser o número 1 e que a Tracker voltar a ser o SUV mais vendido do Brasil”.
Para contextualizar: em 2020 houve aumento de 15% nos preços, que devem receber novo incremento, semelhante, este ano.
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