Seguindo a tradição desta gestão da Anfavea, é melhor ser cauteloso e depois corrigir. Assim, as vendas podem superar, mais uma vez, as expectativas iniciais em 2024
São Paulo – A julgar pelo roteiro de 2023 as projeções para o desempenho da indústria automotiva em 2024, que a Anfavea apresentou na quinta-feira, 7, podem estar mal-dimensionadas. Mas a notícia é positiva: na avaliação do presidente Márcio de Lima Leite há boas possibilidades de uma revisão, para cima: “Espero que possamos errar. E errar bastante a ponto de anunciarmos um crescimento ainda maior ao longo do ano que vem”.
Este ano a Anfavea anunciou em janeiro cautelosa projeção de 3% de crescimento do mercado interno, surpreendendo nossos leitores que ouviram de Lima Leite, meses antes no Congresso Perspectivas 2023, em outubro de 2022, que esperava uma alta mínima de 5% para o período que termina este mês.
Já no segundo semestre, em outubro, a Anfavea apresentou nova expectativa para as vendas de 2023, com alta de 6%, impulsionada pelo apoio do governo com a liberação de créditos tributários para a redução do preço de veículos de até R$ 120 mil. E agora, no último balanço do ano, já considerando um bom desempenho em dezembro, o mercado interno poderá contabilizar um crescimento de 8,8% em 2023.
As projeções cautelosas são a marca desta gestão da Anfavea. Não à toa, pois muitos fatores precisam ser considerados e incluem além, das condições macroeconômicas, o portfólio de produtos e os preços cada vez mais descolados da realidade da maioria dos consumidores. E, ainda, os movimentos de outros segmentos como o mercado de locação e serviços de mobilidade, que há tempos impactam o resultado na modalidade de vendas diretas.
Assim Lima Leite segue repetindo nesses dois últimos anos que espera “errar” em suas projeções. E é o que vem ocorrendo. Para 2024, apesar de oficialmente a Anfavea projetar um crescimento de 7%, ele confidenciou otimismo na possibilidade de revisar em algum momento do ano que vem: “Temos demanda reprimida, setor de locação crescendo e uma frota envelhecida. Além disso os números de emprego formal vêm surpreendendo e a economia como um todo pode ser bem melhor no ano que vem”.
Mesmo aceitando que o preço do carro nacional subiu e isto é uma dificuldade para boa parte dos consumidores realizarem a aquisição de um novo, a expectativa de Lima Leite é que o mercado financeiro surpreenda acelerando a redução das taxas de juros no ano que vem: “O primeiro reflexo de uma redução maior da taxa de juros será no segmento de entrada. Assim as montadoras passarão naturalmente ofertar mais desses produtos, aquecendo as vendas”.
Oficialmente a Anfavea apresenta uma queda de 3 pontos porcentuais na taxa de juros praticada no mercado interno, mesmo considerando um cenário com a inflação menor, o aumento da confiança do consumidor e a Selic também em queda em 2024.
Além disto estudo confrontando as vendas de novos e usados demonstrou que a cada carro zero são comprados cinco usados. Essa relação já foi menor em anos anteriores e aponta que há demanda para os veículos 0 KM, pois o cliente que necessita de um automóvel atualmente está buscando as oportunidades no segmento de seminovos: “Percebemos pelo crescimento de seminovos e motocicletas que a base da pirâmide do consumidor tem interesse em comprar. A questão é a falta de condições para ir para o carro zero”.