Puxada pelo tombo de pesados, cuja fabricação encolheu 37,5%, contribuíram também a queda nas exportações e o aumento das importações, principalmente de eletrificados
São Paulo – A produção de automóveis, comerciais leves, caminhões e ônibus alcançou 2 milhões 325 mil unidades em 2023, o que significou 45 mil a menos do que no ano anterior, recuo de 1,9%. O volume também ficou um pouco abaixo do projetado pela Anfavea, que divulgou o balanço na quarta-feira, 10: era esperado que saíssem das fábricas 2 milhões 359 mil unidades, 34 mil a mais que o efetivo, o que configuraria praticamente estabilidade com 2022, leve recuo de 0,5%, diferença de 11 mil unidades.
Segundo o presidente da entidade, Márcio de Lima Leite, apesar do tímido crescimento da produção de automóveis e comerciais leves, de 1,3% ante o ano anterior, com 2 milhões 203 mil unidades, o baque foi puxado pelos veículos pesados, cuja fabricação encolheu 37,5%, com 121,1 mil unidades.
De acordo com a projeção anterior era aguardada a produção de 2 milhões 236 mil veículos leves, 33 mil a mais, e de 123 mil pesados, 1,9 mil a mais. Analisada separadamente a produção de caminhões despencou 38% em 2023, para 100,5 mil, e a de ônibus levou tombo de 35,2%, totalizando 20,6 mil unidades.
“O grande volume de estoques do ano anterior, somado à queda na demanda por causa da mudança da motorização para o Euro 6, fez com que a produção de pesados caísse. Vejam só: o ano passado começou com 60 mil caminhões em estoque e, em dezembro, restavam ainda 38 mil”.
Mais: os atrasos na licitação da nova etapa do programa Caminho da Escola não refletiram na produção de 2023 pois ficou tudo para este ano.
O dirigente apontou como responsáveis para o cenário os juros ainda em patamar elevado, apesar da redução gradual no ano passado, a maior restrição no acesso ao crédito, que ainda perdura, a redução das exportações e o aumento da entrada de veículos importados no País.
Com relação às importações o destaque foi a China, que ampliou em 431% o ingresso de veículos no Brasil, ao lado de Argentina e México. O dirigente acredita que, apesar da retomada gradual do imposto de importação, os volumes deverão continuar semelhantes este ano até que a produção local comece a oferecer mais opções eletrificadas.
Em dezembro foram produzidos no Brasil 171,6 mil veículos, 10,4% a menos do que no mesmo mês em 2022 e 15,3% abaixo de novembro.
Os estoques somavam 210 mil unidades, sendo 144,3 mil nas concessionárias e 65,8 mil nos pátios das fábricas, o equivalente a 25 dias para a desova: “Esse estoque, que em novembro chegou a 251,5 mil unidades, não pode crescer, pois quando isso ocorre naturalmente temos paradas de fábricas e reduções de turno. E neste caso observamos movimentos de leve crescimento, mas em patamar muito inferior ao pré-pandemia, em que batemos 350 mil veículos”.
O emprego nas montadoras no último dia do ano estava em 98,9 mil profissionais, 2,9% abaixo dos 101,9 mil do mesmo período em 2022 e 2,2% inferior aos 101,2 mil de novembro: “São reflexo dos movimentos de duas fábricas, uma delas que abriu programa de demissão voluntária, que se concretizou em dezembro. E outra em que alguns contratos de trabalho temporários chegaram ao fim, mas esperamos que possam ser renovados este ano, a partir do aumento da demanda e da produção de veículos”.
Lima Leite referiu-se a duas montadoras sediadas no Grande ABC, a General Motors, que recuou nas 1,2 mil demissões e negociou PDV, cujo balanço não foi divulgado, e Mercedes-Benz, que encerrou contratos temporários em maio e dezembro, segundo o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, sem perspectiva inicial de renovação.