Montadora avança em seu processo de terceirização e negocia novo ciclo de investimentos com a matriz, apesar de cenário global divergir do brasileiro
São Paulo – Acostumada à liderança do mercado de caminhões a Mercedes-Benz, nos últimos anos, tem revezado o posto com sua principal concorrente, VW Caminhões e Ônibus, embora em chassis de ônibus mantenha o primeiro posto com folga, com 62,7%. Seu presidente e CEO, Achim Puchert, admitiu estar incomodado com a posição em caminhões.
Considerando as vendas de caminhões durante o primeiro bimestre a Mercedes-Benz emplacou 3 mil 817 unidades, fatia de 23,6% do mercado, conforme dados da Fenabrave, volume 32,4% abaixo do mesmo período em 2023, quando ainda encabeçava o segmento. A atual líder Volkswagen Caminhões e Ônibus obteve participação de 25,1% com 4 mil 75 unidades.
Mesmo assim a companhia manteve-se na segunda posição nos meses iniciais de 2024, assim como no ano passado, quando totalizou 26 mil 236 unidades e market share de 25,2%. Para efeito de comparação a Volkswagen Caminhões e Ônibus somou 27 mil 15 unidades, o equivalente a 26% do mercado.
“Temos uma lacuna na oferta de produtos, honestamente dizendo, porque perdemos o Axor, que não trouxemos para o Euro 6, e o seu sucessor ainda não foi lançado”, disse Puchert, referindo-se ao fato de que o pesado foi aposentado em 2023, após dezessete anos de estrada, uma vez que a proposta da montadora era a de que todas as famílias passassem a usar a mesma eletrônica embarcada no Actros, mas o Axor apresentava restrições para realizar essa mudança.
O cenário, segundo o executivo, traz um pouco de desvantagens ao portfólio de produtos atual, o que vem sendo analisado:
“Conseguiremos alcançá-los este ano? Não estou muito certo disso. Mas acho importante olharmos para todos os investimentos futuros que precisamos fazer sobre veículos de emissão zero, baterias, hidrogênio e infraestrutura. Prefiro sacrificar um pouco da participação de mercado e criar lucratividade para investir no Brasil, nesses produtos e no futuro da operação”.
Sobre o avanço das conversas com a matriz, uma vez que desde o ano passado vem sendo aventada a possibilidade de novo ciclo de investimentos a partir de 2025, Puchert disse que o tema ainda está sendo discutido porque atualmente há contextos distintos no Brasil do restante do mundo: “Estamos vendo um pouco do esfriamento do mercado europeu, que no passado já foi mais forte, o que pode trazer à tona novas conversas a respeito de financiamento global. Mas ainda estamos negociando”.
Processo de terceirização no ABC continua avançando
No segundo semestre de 2022 foi descortinada crise na filial brasileira diante do baixo retorno financeiro enviado à matriz, apesar da conclusão do ciclo de investimentos de R$ 2,4 bilhões, iniciado em 2018, a fim de tornar a fábrica 4.0, modernizar as operações, desenvolver e começar a produzir seu ônibus urbano elétrico eO500U.
Processo que Puchert avaliou que tem obtido bom progresso: “Com relação aos serviços de logística nós finalizamos a transição para a terceirização no meio do ano passado, priorizando fornecedores e provedores de serviços da região do ABC, o que se aplica também à manutenção e ao laboratório. Quanto aos componentes nós fechamos os negócios para que sejam fabricados externamente o eixo dianteiro e a transmissão média”.
Com relação aos empregos envolvidos nessas mudanças, em que o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC busca negociar realocação interna ou mesmo alocação na empresa terceirizada, em último caso, Achim afirmou que, basicamente, o acordo selado com o a entidade envolveu 1,8 mil empregos efetivos, aos quais foi ofertado pacote de PDV, Programa de Demissão Voluntária, e outros 1,4 mil temporários.
“Nessas negociações, no entanto, alguns desses profissionais já foram realocados nas empresas terceirizadas. A Mercedes-Benz, em parceria com o poder público, vem encaminhando os profissionais à requalificação.”
Puchert não entrou no mérito dos pormenores a respeito de quantos aceitaram o PDV, quantos conseguiram nova oportunidade e quantos ainda estão na empresa: “Uma coisa que acho que às vezes tendemos a nos esquecer é todo o dinheiro que foi investido nesse PDV e no processo de requalificação e reposicionamento dos funcionários. É um dinheiro que acaba deixando de ser investido em outras áreas, como na produção”.
O executivo lembrou que acredita que não há certo nem errado, mas que a empresa tem a responsabilidade social de fazer este trabalho, “mas é preciso lembrar que todo o dinheiro aportado nessas tarefas deixa de ser investido em produtos verdes, em qualquer questão mais relacionada à biodiversidade, por exemplo”.