São Paulo – Juros altos e baixa rentabilidade: sob o ponto de vista de Martín Bresciani, presidente da Aladda, que representa o setor de distribuição da América Latina, este é um ponto em comum dos países da região, embora existam diferenças. Ele participou do 6º Congresso Latino-Americano de Negócios do Setor Automotivo, organizado por AutoData.
O dirigente, que tem negócios no mercado chileno, trouxe dados que apontam várias nações de peso no segmento passando por dificuldades, além da Argentina. “Brasil e México são praticamente os únicos crescendo de modo significativo, enquanto Chile e Colômbia, por exemplo, estão sofrendo muito”.
O Uruguai tem um mercado bem menor, mas é outro país com viés de baixa.
Desde a pandemia o crédito automotivo tem apresentado juros altos demais de maneira geral na região, com exceção do México, que tem uma estabilidade maior neste sentido. Segundo Bresciani a crescente inadimplência, como a vista no Chile, é um dos fatores que vem complicando a oferta de financiamentos.
Ele ainda destacou a capacidade de gerar lucro como um desafio atual, pois “no passado a rentabilidade vinha em maior parte dos veículos, mas com o tempo ela passou a ser dividida em mais camadas.”
Por isso há um trabalho bem maior a ser feito, como venda de financiamentos, carros usados, peças de reposição, seguros e serviços de funilaria e pintura, por exemplo. “Não se pode deixar nenhuma dessas áreas esquecidas: todas as verticais do negócio precisam gerar renda”.
Ainda assim, com tanta movimentação financeira, é difícil ser rentável: “Passa muito dinheiro pela empresa mas ao fim, na última linha, sobra muito pouco. O lucro é, quando muito, de 2% sobre a venda”.
Hoje em dia há quem esteja trabalhando por 1% ou até mesmo somente para chegar ao break-even, de acordo com ele. Apesar de tudo acredita que se trata de um ciclo negativo passageiro, e que as concessionárias latino-americanas, em sua maior parte, singrarão por mares mais favoráveis a partir do ano que vem.
Eletrificação deve continuar lenta
A popularização dos carros elétricos é algo que deve demorar para acontecer na América Latina, na opinião de Bresciani: “Atualmente os 100% elétricos só fazem um sucesso relativo na Colômbia e na Costa Rica”.
Para ele ainda faltam preços mais atrativos e infraestrutura de abastecimento na região, especialmente nas estradas. Por sua vez os híbridos já mostram muita força e já representam a transição para uma mobilidade mais sustentável.
“O importante, e a visão que nos fez ver [José Maurício] Andreta Jr., da Fenabrave, é que a palavra não é eletrificar, a palavra é descarbonizar”, declarou Bresciani. “O que interessa é que haja combustíveis compatíveis com um meio ambiente melhor.”