Ex-CEO da Volkswagen brincou durante o Congresso Megatendências 2025, sobre o etanol: “Esta batalha já ganhamos. E falavam que eu era um dinossauro”
São Paulo – Pablo Di Si foi CEO de uma das maiores montadoras do Brasil, a Volkswagen, e depois alçado a cargo de liderança nos Estados Unidos, em que ficou até 2024. Com uma visão mais abrangente do mercado o agora consultor e conselheiro empresarial discutiu a indústria automotiva, as mudanças tecnológicas e políticas que geram impacto no mercado durante o Congresso AutoData Megatendências 2025.
Um dos pioneiros a defender o etanol como alternativa à descarbonização Di Si começou sua apresentação descartando falar sobre o assunto. E brincou: “Não vou abordar o etanol porque é batalha que já ganhamos. E falavam que eu era um dinossauro em 2018”.
Referindo-se às políticas adotadas pelos países europeus e os Estados Unidos sobre os carros elétricos afirmou: “Não invistam em nenhum modelo de negócio que tenha subsídios para consumidores”.
A dica é sempre focar na preferência dos consumidores, mesmo se a preocupação for com o meio ambiente. Ele citou perdas da ordem de US$ 5 bilhões da Ford e US$ 6 bilhões da General Motors em seu país de origem com os veículos elétricos. Não que Di Si seja contra a eletrificação mas ele avalia que a indústria e seus executivos ficaram “apaixonados pela tecnologia e não pelo consumidor”.
A maior ameaça à indústria brasileira
O Brasil precisa ficar atento a uma grande ameaça: uma nova invasão chinesa, de carros similares a outros mais conhecidos no mercado, 30% mais baratos e em alto volume.
Fotos: Patrícia Caggegi.
“Para colocar em números a balança comercial, antes de toda essa bagunça de tributação, era negativa para Estados Unidos com a China em US$ 1 trilhão por ano. Todo esse negócio aqui não vai entrar mais nos Estados Unidos. Para onde você acha que vai? Eles vão ter que encontrar um mercado alternativo.”
Os chineses tentaram vender carros de entrada no Brasil há 20 anos e não deu certo, e . “agora eles têm a gama completa, tanto de carros premium como de entrada. Se o Brasil não tomar cuidado a indústria desaparecerá. E não tem que fazer estudo, tem que ser rápido, porque esse negócio será violento: Os chineses já dominam o mercado latinoamericano e não com tecnologia mas com preço”.
Foco no consumidor
O consumidor deve escolher a tecnologia que mais lhe atende. E neste cenário Di Siu sugere que as decisões de investimento fiquem com o que o consumidor quer, com ênfase nas tecnologias híbrida flex e PHEV. Em sua visão os EVs estão em baixa, mesmo com muito investimento em uma tecnologia para um produto que ninguém quer. Porque é um nicho.
Outro ponto de atenção: cuidar da inovação: “Existe muita tecnologia e tem muita gente inteligente no mundo fazendo inovação. Deixem os outros experimentarem e você vê se funciona. Vai ter muita empresa falindo, principalmente as empresas de carros elétricos. Acho melhor ser mais prudente, esperar e tomar um segundo passo, quando a tecnologia estiver estabelecida”.
Etanol, uma grande oportunidade
“O etanol nunca vai funcionar na Alemanha. Não porque eles não querem mas, porque, eles não têm. Se eles tivessem etanol não teriam carros elétricos e, sim, carros a etanol.”
Di Si até que não queria falar do etanol, mas questionado abordou sua importância: “Quando você olha o mundo a maior parte dos engenheiros de carros a combustão aposentou ou foi demitida. O Brasil tem uma altíssima capacidade intelectual que precisamos preservar para desenvolver estes carros com motores flex”.